Produção Textual,
análise de gêneros e compreensão/ Luiz Antônio Marcuschi- São Paulo: Parábola
Editorial, 2008.
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O estudo dos gêneros não é novo, mas
está na moda (pp: 147-149).
O estudo dos gêneros textuais não és novo e, no Ocidente, já tem pelo menos vinte e cinco séculos, se considerarmos que sua observação sistemática iniciou-se em Platão. O que hoje se tem é uma visão do mesmo tema.
Hoje o estudo dos gêneros textuais está na moda, mas em perspectiva
diferente da aristotética e muitos estudiosos de áreas diversas estão se
interessando mais por ele.
Isso está tornando o estudo de gêneros textuais um empreendimento cada
vez mais multidisciplinar. O trato dos gêneros diz respeito ao trato da língua
em seu cotidiano nas mais diversas formas.
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O estudo dos gêneros mostra o
funcionamento da sociedade (pp:149-150).
Todos os gêneros têm uma forma e uma função, bem como um estilo e um conteúdo, mas sua função, bem como seu estilo e um conteúdo, mas sua determinação se dá basicamente pela função e não pela forma.
O estudo dos gêneros textuais é hoje uma fértil área interdisciplinar,
com atenção especial para a linguagem em funcionamento e para as atividades
culturais e sociais.
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Algumas perspectivas para o estudo
dos gêneros (pp:151-152).
O estudo dos gêneros textuais é muito antigo e achava-se concentrado na literatura. Agora sai dessas perspectivas e vem para a linguística de maneira geral, mas em particular nas perspectivas discursivas.
De maneira geral, o que se tem notado no Brasil foi uma enorme
proliferação de trabalhos, inicialmente na linha de Swales e depois da escola
de Genebra com influência de norte-americanos e da análise do discurso crítica.
Ao lado dessas perspectivas em curso no Brasil, podemos, de um modo mais
amplo, indicar algumas perspectivas teóricas em curso internacionalmente:
a) perspectivas sócio
histórica e dialógica (Bakhtin);
b) perspectiva
comunicativa ( Steger, Gulich, Bergmann, Berkenkotter);
c) perspectiva
sistêmico-funcional (Halliday);
d) perspectiva
sociorretórica de caráter etnográfico voltado para o ensino desegunda língua
(Swales, Bhatia);
e) perspectiva
interacionista e sociodiscursiva de caráter psicolinguístico e atenção didática
voltada para língua materna (Bronckart, Dolz, Schneuwly);
f) perspectiva da
análise crítica (N. Fairclough; G. Kress);
g) perspectiva
sociorretórica/sócio-histórica e cultural (C. Miller, Bazerman, Freedman).
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Noção de gênero textual, tipo textual
e domínio discursivo (pp:153-161).
Quando dominamos um gênero textual, não dominamos uma forma linguística e sim uma forma de realizar linguisticamente objetivos específicos em situações sociais particulares. Não se pode tratar o gênero de discurso independentemente de sua realidade social e de sua relação com as atividades humanas.
Para a noção de tipo textual, predomina a identificação de sequências
linguísticas. No caso dos domínios discursivos, não lidamos propriamente com
textos e sim com formações históricas e sociais que originam os discursos.
Gêneros textuais como sistema de controle social (pp:161-163)
Os gêneros são atividades discursivas socialmente estabilizadas que se
prestam aos mais variados tipos de controle social e até mesmo ao exercício de
poder. Quando queremos exercer qualquer tipo de poder ou de influência,
recoremos ao discurso.
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A questão da intergenericidade: que
nomes dar aos gêneros? (pp:163-171)
A intergenericidade de funções e formas de gêneros diversos num dado
gênero deve ser distinguida da questão da heterogeneidade tipológica do gênero,
que diz respeito ao fato de um gênero realizar sequências de vários tipos
textuais (por exemplo, uma carta pessoal, pode conter uma narrativa, uma
argumentação e uma descrição, entre outras).
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A questão intercultural (pp:171-173).
Os gêneros não tem a mesma circulação situacional em todas as culturas. Há diferenças interculturais na circulação dos gêneros.
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A questão do suporte de gêneros
textuais (pp: 173-186).
Entendemos como suporte de um gênero um lócus físico ou virtual com formato específico que serve de base ao ambiente de fixação do gênero materializado como texto. Suporte de um gênero é uma superfície física em formato específico que suporta, fixa e mostra um texto.
Há dois tipos de suporte: convencional (ex: livro, encarte, folder) e o
incidental (ex: roupas, paredes, corpo humano).
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Análise dos gêneros na oralidade (pp:
186-189)
A relevância da investigação dos gêneros textuais reside, no fato de serem usados pelos participantes da comunicação linguística como parte integrante de seu conhecimento comum. Assim, um gênero seria uma noção cotidiana usada pelos falantes que se apoiam em características gerais e situações rotineiras para identificá-lo.
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A análise de gêneros textuais na
relação fala e escrita (pp:190-193).
O contínuo verificado entre a fala e a escrita também tem seu correlato no contínuo dos gêneros textuais enquanto forma de representação de ações sociais. Embora os gêneros textuais ancoram na sociedade e nos costumes e ao mesmo tempo são parte dessa sociedade e organizam os costumes, podem variar de cultura para cultura.
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Domínios discursivos e gêneros
textuais na oralidade e na escrita (pp: 193-196).
Entendemos como domínio discursivo uma esfera da vida social ou institucional (religiosa, jurídica, jornalística etc.) na qual se dão práticas que organizam formas de comunicação e respectivas estratégias de compreensão.
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Distribuição dos gêneros no continuum
da relação fala-escrita (pp:196-198).
A rigor, trata-se da mesma proposta feita, mas agora com uma tentativa de agrupar os gêneros e indicá-los ao longo do Contínuo.
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Os gêneros emergentes na mídia
virtual e o ensino (pp:198-206)
Em uma época, que proliferam gêneros novos de novas tecnologias, particularmente na mídia eletrônica (digital). Diante disso, vale indagar-se se a escola deverá amanhã s ocupar de como se produz um e-mail e outros gêneros do discurso do mundo virtual ou se isso não é sua atribuição.
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A questão dos gêneros e o ensino da
língua (pp:206-208).
Uma análise dos manuais de ensino de língua portuguesa mostra que há uma relativa variedade de gêneros textuais presentes nessas obras. Contudo, uma observação mais atenta e qualificada revela que a essa variedade não corresponde uma realidade analítica. Os demais gêneros figuram apenas para “enfeite” e até para distração dos alunos. Lentamente, surgem novas perspectivas e novas abordagens que incluem até mesmo aspectos da oralidade.
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Gêneros textuais na língua falada e
escrita de acordo com os PCNs (pp:208-209)
Este aspecto não passa despercebido aos PCNs.às vezes se trata de tipos de texto ou sequências discursivas tais como: narrativa, descrição, exposição, argumentação e conversação. Em outros casos, trata-se de gêneros textuais: entrevista, debate, palestra, conto, novela, artigo etc.
Consideram-se apenas os gêneros como realizações linguísticas mais
formais e não os mais praticados nas atividades linguísticas cotidianas. Além
disso, falta uma noção da gradação de que se fala em outras partes dos PCNs.
O que mais salta à vista, no entanto, é a confusão entre oralidade e
escrita. Mesmo as exposições ao longo dos PCNs, não ajudam a entender o
procedimento nesse ponto.
O que se nota é que há muito mais gêneros sugeridos para a atividade de
compreensão do que para a atividade de produção. Isto reflete em parte a
situação atual em que os alunos escrevem pouco e em certos casos quase
não escrevem.
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Os Gêneros textuais
em sala de aula: as “sequências didáticas” (pp:209-221).
Os autores definem a “sequência didática” como: um conjunto de atividades escolares organizadas, de maneira sistemática, em torno de um gênero textual ou escrito.
A finalidade de trabalhar com sequências didáticas é proporcionar ao
aluno um procedimento de realizar todas as tarefas e etapas para produção de um
gênero.
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A proposta de Bronckart (pp::221-223)
Bronckart(2001) em L'enseignement des discours, lembra que os textos são
um objeto legítimo de estudo e que a análise de seus níveis de organização
permite um objeto legítimo de estudo e que a análise de seus níveis de
organização permite trabalhar a maioria dos problemas relativos à língua em
todos os seus aspectos. O trabalho dos gêneros é interessante na medida em que
eles "são instrumentos de adaptação e participação na vida social e
comunicativa".
Orientações Curriculares para o
Ensino Médio. Volume 1: Linguagens, códigos
e suas tecnologias. Brasília: Ministério da Educação
/ Secretaria de Educação
Básica, 2006.
Capítulo 1 – Linguagens, códigos e
suas tecnologias
Conhecimentos de Língua Portuguesa
1. A Língua Portuguesa no contexto
do Ensino Médio
“...o ensino médio
deve atuar de
forma que garanta
ao estudante a preparação
básica para o prosseguimento
dos estudos, para a inserção no mundo
do trabalho e para o exercício cotidiano da cidadania,
em sintonia com as necessidades político-sociais de seu tempo”. (p.18)
“Trata-se, aqui, de discutir, em linhas gerais, a relação entre os avanços
de disciplinas científicas que se incumbem do estudo da língua e da linguagem e
seus efeitos para as disciplinas escolares envolvidas na formação oferecida
pelo ensino médio”. (p.19)
2- Construção de novas rotas no estudo da Linguagem: Caminhos que configuram a identidade da disciplina
“As transformações
dos estudos da língua
e da linguagem,
assim como dos
estudos especificamente vinculados ao processo
de ensino e
de aprendizagem da Língua
Portuguesa como língua materna provocaram, nos últimos
anos, a reflexão e o debate acerca da
necessária revisão dos objetos de ensino em nossas salas de aula”. (p.19)
“...
o desenvolvimento do campo levou, posteriormente, mais especificamente nos anos
1980, a que se considerasse, grosso modo,
que a variação
dos usos da
língua (...) só
seria efetivamente compreendida quando considerada
na materialidade do texto
e em relação ao contexto de produção de sentido,
o que envolve tanto o contexto imediato em que se dá a interação quanto a
esfera social de que ela emerge”. (p.21)
“... essa nova perspectiva
passa a ser essencial para o amplo desenvolvimento
dos estudos dos gêneros discursivos no
momento atual”. (p.21)
3. Concepção de Língua e Linguagem e Práticas
de Ensino
“Um
outro ponto essencial,
nesse quadro, é o de que,
sendo a linguagem
uma capacidade humana de simbolizar
e de interagir
e, por essa
via, condição para que
se construam as realidades,
não se pode
dizer que entre
os signos que
constituem os diferentes sistemas semióticos e o mundo
haja de fato uma relação direta”. (p.24)
“o
papel da disciplina
Língua Portuguesa é o de possibilitar,
por procedimentos sistemáticos, o desenvolvimento
das ações de
produção de linguagem
em diferentes situações de interação,
abordagens interdisciplinares na prática
da sala de
aula são essenciais.”. (p.27)
“Vale ressaltar que essa
consciência só se alcança em razão de o aluno ser orientado, nas práticas de ensino
e de aprendizagem,
para uma atuação
ativa no trabalho
com o texto”. (p.31)
4. A disciplina Língua Portuguesa:
perspectivas no conceito do Ensino Médio
“...
propõe-se a ampliação e a consolidação
dos conhecimentos do estudante para agir em práticas letradas de prestígio,
o que inclui
o trabalho sistemático com textos
literários, jornalísticos, científicos, técnicos, etc., considerados os diferentes
meios em que circulam: imprensa, rádio, televisão,
internet, etc.”. (p.33)
“Essa
coletânea de textos deve ser constituída e trabalhada de modo que contribua
para que os alunos se
construam, de forma
consciente e consistente,
sujeitos críticos, engajados e comprometidos com a
cultura e a memória de seu país”. (p.33)
5. Organização Curricular e procedimentos
metodológicos de abordagem
dos conteúdos
“Cabe à escola, junto com os professores,
precisar os conteúdos a serem transformados
em objetos de ensino
e de aprendizagem
bem como os
procedimentos por meio
dos quais se efetivará sua
operacionalização”. (p.35)
6.
Considerações Finais
“No
caso específico da proposta curricular do ensino médio e, em geral,
da educação básica, a proposição
de novas orientações
curriculares é, em maior ou
menor grau, impulsionada pelas injunções
que as práticas sociais de uma sociedade
constituída de múltiplas culturas, tecnologicamente complexa, vêm trazendo às suas instituições,
por conseguinte, à educação, ou, em outros termos, à escola”. (p.43)
Capítulo 2 – Linguagens, códigos e
suas tecnologias
Conhecimentos de Literatura
1. Por que a Literatura no Ensino
Médio?
“A
Literatura era tão valorizada que chegou mesmo a ser tomada como sinal distintivo de cultura (logo, de classe social): ter
passado por Camões, Eça de Queirós, Alencar, Castro Alves, Euclides da Cunha,
Rui Barbosa, Coelho Neto
e outros era
demonstração de conhecimento,
de cultura”. (p51)
2. Formação do leitor: do ensino
fundamental ao ensino médio
“Quando
se focaliza a leitura literária dentro do ensino da Literatura no ensino médio,
evidencia-se a questão da passagem de um nível de escolaridade a outro, muitas
vezes não mencionada. O ensino da
Literatura no ensino fundamental (...)
caracteriza-se por uma formação menos sistemática e mais aberta do ponto de
vista das escolhas, na qual se misturam livros que
indistintamente denominamos “literatura infanto-juvenil” a outros que fazem parte da literatura dita
‘canônica’”. (p.61)
“Na
passagem do ensino fundamental para o ensino médio, um declínio da experiência de
leitura de textos fccionais, seja de livros da Literatura infanto-juvenil, seja
de alguns poucos autores representativos da Literatura
brasileira selecionados, que aos
poucos cede lugar à história da
Literatura e seus estilos”. (p.63)
3. A leitura literária
3.1 A importância do leitor
“O
leitor vem sendo analisado e conceituado não só por meio das chamadas teorias
da recepção, como também por
outras linhas críticas
da atualidade, para as
quais não apenas autor e texto, mas esse terceiro
elemento, formam juntos o campo de estudo da crítica, da teoria e da história
da Literatura”. (p.65)
3.2 Que leitores somos
“Fatores
linguísticos, culturais, ideológicos, por exemplo, contribuem para modular a relação do leitor
com o texto,
num arco extenso
que pode ir
desde a rejeição
ou incompreensão mais absoluta até a
adesão incondicional. Também conta a familiaridade que o leitor tem com o
gênero literário, que igualmente pode regular o grau de exigência e de
ingenuidade, de afastamento ou aproximação”. (p.68)
3.3 Formação do leitor crítico na
escola
“O
desafio será levar o jovem à leitura de obras diferentes desse padrão (...)
capazes de propiciar uma fruição mais apurada, mediante a qual terá acesso a
uma outra forma de conhecimento de si e do mundo” (p.70)
“A
prática escolar em relação
à leitura literária tem sido
a de desconsiderar
a leitura propriamente e privilegiar
atividades de metaleitura,
ou seja, a
de estudo do
texto, aspectos da história literária,
características de estilo, etc., deixando em segundo plano a leitura do texto
literário”. (p.70)
4. Possibilidades de mediação
4.1 O professor e a seleção de
textos
“...
o professor opera escolhas de narrativas, poesias, textos para teatro, entre
outros de diferentes linguagens que dialogam com o texto literário. Essas escolhas ligam-se não só às preferências pessoais, mas
a exigências curriculares dos projetos pedagógicos da escola”. (p.71)
“Quando
se propõe uma seleção de leitura integral de obras distribuídas nos três anos
do ensino médio, devem se
considerar alguns fatores
que estão na
base dos critérios
de escolha. O primeiro deles é o uso ou
não de livro didático na escola”. (p.73)
4.2 O professor e o tempo
“Os
professores, pressionados por programas
panorâmicos, sentem-se obrigados a cobrir toda a linha do tempo fazendo uso da
história da Literatura, ainda que isso não sirva para nada: aulas “chatas”,
alunos e professores desmotivados, aprendizagem que não corresponde ao que em
princípio foi ensinado”. (p. 76)
“É
urgente que o professor, ele próprio, se abra para as potencialidades da
literatura e faça um esforço para se livrar dos preconceitos didáticos que o obrigam a cobrir um conteúdo mensurável e visível,
como são as escolas literárias, em prejuízo
de um conteúdo menos escolarizado
e mais oculto,
que é a leitura vagarosa da Literatura,
pensando-se sobretudo no romance, talvez o gênero mais popular dentre os
literários”.(p.78)
4.3
O leitor e o espaço
“O
projeto pedagógico com vistas
à formação do leitor
da Literatura deve incluir
a estruturação de um sistema de trocas
contínuo, sustentado por uma biblioteca com bom acervo e por outros ambientes
de leitura e circulação de livros”. (p.80) .
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